POSTHUMAN TANTRA é um delírio sonoro "sci-fi industrial ambient" criado em 2004. É a trilha sonora da "Aurora Pós-Humana" – admirável mundo novo baseado na fusão entre DNA & Silício, com novas criaturas que mixam humano, animal, vegetal e máquinas. A música e o conceito geral do POSTHUMAN TANTRA são influenciados pelas idéias de pensadores como R.A.W., Buckminster Fuller, Teilhard de Chardin, Blavatsky, Giordano Bruno, Rupert Sheldrake, Ken Wilber, P.K. Dick, Grof e também pelas criações de artistas pós-humanos como: Orlan, Giger, Mark Pauline, Stelarc, Roy Ascott, Kac, Cronenberg e alguns aspectos de movimentos como The Extropy, Transhumanism & Immortalism. Edgar Franco - o homem por trás do projeto, é arquiteto pela UnB, mestre em multimeios pela Unicamp e doutor em artes pela USP. Segue a entrevista cedida para a Ravens House Brasil pelo ilustríssimo Edgar Franco.
1-Primeiramente gostaria de agradecer pelo tempo cedido a essa entrevista?
R: Pra mim é uma honra poder responder questões de alguém sensível, inteligente e talentosa como você, e muito bacana falar com os leitores da RAVENS HOUSE, seu blog! Portanto eu que agradeço sua disponibilidade para comigo e o POSTHUMAN TANTRA!
2-Seu projeto, "Posthuman Tantra", surgiu como uma experiência musical ou sempre teve um caráter profissional?
R: O Posthuman Tantra nasceu em 2004 da necessidade de criar as ambiências sonoras para meu universo de ficção científica “Aurora Pós-humana” e também como forma de expressar minhas visões sobre transcendência e tecnognosticismo. Ainda é, e sempre será, um grande laboratório de música atmosférica experimental. Quando assinei com o selo suíço Legatus Records (
http://www.legatusrecords.net/ ) fui claro sobre a total liberdade que exijo para criar meus trabalhos e recebi apoio irrestrito da gravadora nesse sentido. Mas a minha mentalidade com o projeto sempre foi “profissional”, ou seja, apresentar aos interessados em minha música e arte produtos bem acabados, boas gravações, artes gráficas bem cuidadas. Isso é fundamental para que um trabalho artístico seja levado a sério.
3-Quanto tempo o "" tem de estrada e qual o local mais receptivo que já tocou?
R: A idéia surgiu em fins de 2003 e lancei o primeiro CD-r no princípio de 2004, portanto são 4 anos de Posthuman Tantra. Na verdade estou preparando as apresentações ao vivo, já recebi muitos convites, mas não quero fazer algo simplório, o Posthuman é um projeto multimídia, assim meu show envolverá teatralidade e projeções muito especiais, com minhas ilustrações e animações criadas exclusivamente para isso. O show está em fase final de preparação. Já recebi convites até da Europa e provavelmente no futuro farei algumas datas na Suíça e Alemanha, tudo dependerá de uma série de negociações ainda no princípio. O primeiro álbum oficial “Neocortex Plug-in”, está sendo distribuído na Europa e Ásia, recebo e-mails de pessoas que escutam minha música em países distantes com Rússia e Japão, curiosos pra saber das performances ao vivo.
A idéia de produzir o primeiro vídeo clipe para a faixa “The Master of The Alien Werewolves’ Clan” surgiu para atender um pouco a essa demanda, mostrar algo da teatralidade e mítica que envolverá as apresentações ao vivo do Posthuman Tantra. O trabalho é uma produção conjunta Brasil-Alemanha e foi dirigido pelo bavariano Christian Rengstl e sua esposa Ariadne. O clipe conta com locações especiais e um clima tétrico-mágico, com influências do expressionismo alemão e B-movies da produtora inglesa Hammer. Os interessados podem assisti-lo em uma versão de melhor qualidade na página inicial do myspace do Posthuman Tantra:
www.myspace.com/posthumantantras ou em uma versão de qualidade inferior no youtube.
4-As letras da banda seguem algum padrão ou são de acordo com seu estado de espírito no momento?
R: O Posthuman Tantra é um reflexo de meu universo ficcional chamado Aurora Pós-humana, desenvolvido durante minha tese de doutorado em artes na USP - concluída em 2006. A partir de uma experiência anterior com música e do encontro com as sonoridades eletrônicas decidi criar um projeto musical-multimídia que gerasse as ambiências sonoras para minha ficção e que corroborasse minha visão prospectiva sobre esse futuro pós-humano em sua concepção lírica, além de incluir minhas visões sobre expansão da consciência e transcendência e suas conexões com o momento tecnognóstico contemporâneo.
O universo da “Aurora Pós-humana” apresenta o planeta Terra em um futuro onde a transferência da consciência humana para chips de computador será algo possível e cotidiano, no qual milhares de pessoas abandonarão seus corpos orgânicos por novas interfaces robóticas. Imaginei também que neste futuro hipotético a bioengenharia tenha avançado tanto que permita a hibridização genética entre humanos e animais, gerando infinitas possibilidades de mixagem antropomórfica, seres que em suas características físicas remetem-nos imediatamente às quimeras mitológicas. Finalmente imaginei que estas duas "espécies" pós-humanas tornaram-se culturas antagônicas e hegemônicas disputando o poder em cidades estado ao redor do globo enquanto uma pequena parcela da população, uma casta oprimida e em vias de extinção, insiste em preservar as características humanas, resistindo às mudanças.
Dessas três raças que convivem nesse planeta terra futuro, duas são o que podemos chamar de pós-humanas, sendo elas os "Extropianos" (seres abiológicos, resultado do upload da consciência para chips de computador) e os "Tecnogenéticos" (seres híbridos de humano e animal, frutos do avanço da biotecnologia e nanoengenharia), tanto Extropianos, quanto Tecnogenéticos contam com o auxílio respectivamente de "Golens de Silício" – robôs com inteligência artificial avançada (alguns reivindicam a igualdade perante as outras raças) e "Golens Orgânicos" – robôs biológicos, serventes dos Tecnogenéticos. A última raça presente nesse contexto é a dos "Resistentes", seres humanos no "sentido tradicional", raça em extinção correspondendo a menos de 5% da população do planeta.
Este universo tem sido aos poucos detalhado com dezenas de parâmetros e características, trata-se de um work-in-progress que toma como base todas as prospecções da ciência e das artes de ponta para reestruturar seus parâmetros. A partir dele já foram desenvolvidas uma série de trabalhos artísticos, em diversas mídias e suportes e atualmente outras obras estão em andamento.
Já foram criados para as hipermídias: o site “Neomaso Prometeu” (Menção honrosa no 13º Festival Videobrasil), o trabalho em CD-ROM “Ariadne e o Labirinto Pós-humano” (participante da mostra SESC SP de artes – 2005), o site de vida artificial “O Mito Ômega” (ainda em desenvolvimento) e ainda a faixa multimídia “Game-o-tech 2.0” – que integra o CD “Neocortex Plug-in”. Nos quadrinhos desenvolvo a trilogia Biocyberdrama (parceria com o lendário quadrinhista Mozart Couto), com o primeiro álbum lançado pela editora Opera Graphica (que recebeu o prêmio Ângelo Agostini de melhor desenho de 2003) e também a revista em quadrinhos “Artlectos e Pós-humanos” que já teve 2 números publicados pela Júpiter II, entre outros trabalhos.
A base bibliográfica de minha pesquisa e das letras que escrevo para o Posthuman Tantra envolve o estudo das obras e artigos de artistas como Stelarc, Roy Ascott, Natasha Vita-more, Eduardo Kac, Mark Pauline, Orlan, H.R.Giger, Diana Domingues; de filósofos como Max More, Ray Kurzweil, Laymert Garcia, Hans Moravec, Vernon Vinge, Lovelock, Teilhard de Chardin, Maturana e Varella, Stanislav Grof, Dee, Crowley, entre muitos outros. Obviamente, as minhas experiências de vida aliadas ao estudo desses artistas, filósofos e místicos são a base para a criação das músicas e letras de meu projeto.
5-Pelo que ouvi de seus trabalhos notei referências de Mortiis e um pouco de darkwave. Quais as suas reais influências?
R: Eu gosto dos primeiros trabalhos do Mortiis e da aura mítica que criou sobre a personagem que interpreta, mas a música do Posthuman Tantra não é influenciada diretamente por ele. Minhas referências vão do ambient ao prog, passando pelo psicodélico e darkwave e chegando ao industrial e ao metal. Só pra citar alguns nomes seminais na minha formação musical: Ash Ra Tempel, Richard Pinhas, Brian Eno, John Cage, Syd Barrett, Roger Waters, Tangerine Dream, Burzum (fase final), Alpha III, Vangelis, SMES, Celtic Frost, Melek-tha, Lustmord, Thy Veils, Ulver, Merzbow, Agalloch, Aesthetic Meat Front, Abruptum, Beyond Sensory Experience, Philip Glass, Naevus – são músicos e bandas de múltiplas tendências. Mas acredito que sofro mais influência da literatura, filosofia, arte visual e cinema do que da música quando vou compor. Para as pessoas é difícil definir o som do Posthuman Tantra, muitos chamam de dark ambient, outros de experimental, outros de psychodelic industrial e a gravadora Legatus alcunhou meu estilo de “Sci-fi Transcendental Industrial Psychodelic Ambient” – para mim está perfeito! (risos).
6-A respeito das suas criações artísticas. A mitologia lovecraftiana tem a ver com suas obras?
R: Esta é um pergunta muito tenaz! Sou fascinado por Lovecraft e por sua literatura mítica que trata das forças inomináveis e ancestrais que regem o equilíbrio do cosmos. Não sou influenciado diretamente por ele ao criar minhas obras, mas acredito que – sem querer ser pretensioso – nós bebemos da mesma fonte! Procuramos retratar em nossas obras esse embate sensual e caótico entre os opostos complementares. Entretanto criei uma música exclusiva e toda a arte gráfica de uma compilação lançada na Itália no ano passado chamada “The Progeny Of The Abysses”, essa coletânea reuniu 16 bandas de dark ambient do mundo inteiro fazendo uma homenagem a Lovecraft. Nesse caso a capa e arte gráfica do trabalho foram totalmente inspiradas na cosmogonia de Lovecraft, assim como a faixa que criei que uniu seu universo ao meu, o título dela é: “The Cthulhu Creatures Recriated By The Occult Biotech Masters”.
7-Além dos álbuns do Posthuman Tantra, quais os outros trabalhos de Edgar Franco na cena musical?
R: Eu trabalho como ilustrador e artista gráfico desde o início dos anos 90, de lá pra cá já contabilizei mais de 100 capas de CDs de bandas do Brasil e exterior. Já fiz artes para bandas de países como Inglaterra, Suíça, Alemanha, EUA, Japão, Itália, França, entre muitos outros. Também fui mentor do webzine Krepuskulum que durou de 1999 a 2005, tendo entrevistado mais de 150 bandas de todos os estilos do metal dos cinco continentes e também resenhado mais de 1500 CDs. O webzine ainda pode ser visitado on-line no endereço:
www.geocities.com/krepuskulum . Foi uma experiência bacana que gerou laços de amizade com pessoas da cena musical de todo o planeta.
8-Seu traço é inconfundível! Quais as suas referências ou desde o início optou por inovar um estilo?
R: Muito obrigado por essa observação, ela me deixa feliz por partir de alguém que também desenha e é talentosa como você! Na verdade eu nunca almejei um estilo pessoal, simplesmente decidi criar minha arte sem copiar outros artistas, preocupado apenas em expressar o que me vai ao íntimo, criar arte com sinceridade, paixão pela vida, visceralidade. Por mais difícil que tenha sido essa decisão no começo, ela acabou ajudando a moldar meu “estilo”! Mas sou um artista em constante evolução e busca, se acreditar que cheguei a um “estilo acabado” me estagnarei, e a estagnação é a morte do artista, sem novas experiências não existe arte!
9-Como é ser um "one man band?” Poderia adiantar quais os projetos para 2008 e quando teremos uma apresentação do Posthuman Tantra em São Paulo?
R: Gosto de ter controle sobre o que crio, abarcar todos os aspectos, imaginar cada detalhe de minha música e arte. Mas a banda de um homem só tem suas vantagens e desvantagens, pois criar com outras mentes é sempre algo poderoso, por isso o Posthuman Tantra está constantemente envolvido em parcerias! Esse ano teremos novas parcerias com a famosa banda francesa de death ambient Melek-tha, a primeira delas acaba de ser lançada, é a Box Set “Alien Emperor Eternal” – fim da Kelemath Saga, que narra a invasão a Terra por uma raça alien provinda de Sirius – essa Box inclui quatro CDs, cinco cards redondos coloridos desenhados por mim e ainda dois adesivos e vem em uma caixa metálica redonda. No segundo semestre teremos “The Hollow Earth”, CD duplo com músicas de Melek-tha e Posthuman Tantra encartado em um álbum em quadrinhos de 60 páginas desenhado por mim. Também está no prelo o CD “Gothik Kama Sutra” parceria entre o Posthuman Tantra e o Alpha III – lendário projeto space-prog do músico genial Amyr Cantúsio Jr. Finalmente até o meio do ano teremos um EP lançado pelo Posthuman Tantra trazendo a participação especial da ocultista européia Asenath Mason – recitando rituais de seu livro “Necronomicon Gnosis”. Também estou iniciando as negociações para um segundo full-lenght álbum. Espero que até o final do ano o Posthuman Tantra estréie nos palcos, quem sabe em São Paulo.
10-Obrigada pela entrevista e nós da Ravens House aguardamos novas aparições deste fiel representante do underground nacional neste simplório blog...
R: Eu agradeço imensamente a oportunidade e sempre que for convidado estarei à disposição de vocês! Muito sucesso com o blog e todos os seus projetos, cara R.Raven! Convido os leitores a entrem em contato comigo.
Entrevista cedida à R.Raven em Janeiro de 2008.