por Monalise Rodrigues
Este é o terceiro CD autoral de Olivia, uma artista independente, que faz música de qualidade, alheia aos modismos e sucessos da mainstream. Só a música faz é a artista em seu compromisso firmado com sua própria estética musical e nos traz neste belo registro compositores pouco conhecidos do grande público como: Ligia Kas, José Luiz Marmou, Monalisa Lins e a própria cantora, que abriu mão de regravar compositores consagrados da nossa música.
Produzido e arranjado pela artista, com linguagem moderna, marcado pela mistura de estilos e tendências, seu novo trabalho apresenta uma sonoridade tão singular quanto sua voz. Em Só a música faz Olivia caminha por baladas, folk e rock, passeando também por ritmos brasileiros; traz harmonias bem elaboradas e belas melodias para cantar versos delicados e marcantes como em “Ausência”:
“esse réptil silêncio que rasteja entre as poucas palavras ao chão e um suposto afeto sem perdão”.
Outra bela canção, que evidencia a qualidade poética do trabalho da cantora pode ser visto na letra de “E você meu amor, não vem?":
“Descalça pela rua, pisando na brasa do tempo
Me inspiro na saudade do presente. Enquanto a árvore se dobra com o vento
O mundo todo está em movimento”
Me inspiro na saudade do presente. Enquanto a árvore se dobra com o vento
O mundo todo está em movimento”
Na faixa que dá nome ao trabalho, “Só a música faz”, a cantora declara seu amor e seu desejo pela arte musical, que a acompanha desde a infância:
“Quero algo que não saia da mente, nem que a gente tente tirar,
(...) envolva a minha cabeça e me leve (...) algo que seja como a alegria que irradia e passa a brilhar”
(...) envolva a minha cabeça e me leve (...) algo que seja como a alegria que irradia e passa a brilhar”
Assim, este CD retrata a artista num momento especial de sua carreira. Com melodias agradáveis, letras singelas e produção refinada. Olivia, mais do que uma cantora da nova geração, revela-se artista. Em entrevista para a Monalise Rodrigues, aluna de Língua Portuguesa do 1º Ano E.M., do professor-mestre Eduardo Amaro, da Escola Estadual Professora Semíramis Prado de Oliveira, a cantora revela um pouco de sua personalidade e de sua obra.
Monalise: Para você, qual o momento mais marcante que você viveu em sua carreira?
Olívia: Minha carreira até hoje foi marcada por grandes dificuldades, o que tive sempre como um incentivo para a perseverança e para a certeza cada vez maior do meu caminho. Acredito que meus momentos mais marcantes foram o lançamento do segundo CD, “Perto”, pois tinha saído da gravadora e pude provar para mim mesma que conseguiria fazer tudo sozinha; e agora o lançamento do meu sexto CD, “Só a música faz”, que consolida meu trabalho autoral.
Monalise: Você poderia nos falar um pouco sobre o seu novo trabalho, "Só a música faz"?
Olívia: Só a música faz é um CD que traz uma estética musical que remete aos anos setenta, em relação a timbres e texturas, da mesma maneira que é contemporâneo de seu tempo refletindo isso nos arranjos e na combinação de estilos.
É um trabalho autoral que concretiza meu amor pela música, e coloca a música no lugar de um aproximador de pessoas, ignorando diferenças sócio-culturais. Os outros compositores que colaboraram comigo neste CD também afirmam isso de alguma maneira em suas canções.
Monalise: Se você tivesse que caracterizar seu som, como seria? Em que tipo de categoria você o colocaria?
Olívia: Nunca me agradou a limitação que uma “classificação musical” sugere, mesmo assim as pessoas necessitam disso para relaxar diante de algo inusitado. Dessa maneira posso aproximar meu trabalho de um pop/rock/alternativo/brasileiro, porque dá para encontrar em minha músicas influências do rock e do folk, da música brasileira, do lounge de ritmos orientais, enfim...ainda acho que “pop” é o único termo que por si só já pode ser entendido como uma “mistura acessível”.
Monalise: Como você está vendo o mercado musical de nosso país nesse momento?
Olívia: O Brasil talvez esteja começando a se distanciar dos padrões musicais impostos pelas grandes mídias, e finalmente abrindo os horizontes auditivos de seu povo. A internet tem grande responsabilidade sobre isso, pois começou a inserir na mente das pessoas a possibilidade da escolha, do desenvolvimento do gosto pessoal, do “ouvido individual” que se forma a partir de referências e bagagens musicais distintas. A internet facilita a divulgação direta do músico para o ouvinte, sem intermediários, e acredito que seja o fator mais positivo que estamos vivendo no momento. O músico fica conhecendo melhor o seu público e vice-versa, estreitando as relações e propiciando uma divulgação mais direta e objetiva. Outro fator positivo e importante é a divulgação “sem-fronteiras” que nos permite entrar em contato com pessoas que possuam afinidade com nosso trabalho aonde elas estiverem, e no horário que estiverem disponíveis.
Monalise: O que você acha que vai acontecer com a indústria da música no futuro agora, que a maioria das pessoas baixa música pela internet?
Olívia: Ainda precisamos de um bom tempo até que as pessoas se acostumem também a comprar música pela internet, em vez de apenas baixar o conteúdo gratuitamente, mas isso também é uma questão de educação de cada país. Enquanto isso, vamos cultivando através dessa grande ferramenta de divulgação o ouvido seletivo, incentivando a busca por novidades e diferenciais.
A indústria da música como foi conhecida até então, com o monopólio de grandes gravadoras, já não tem mais razão de existir. O futuro nos reserva a independência dos músicos e artistas, que conseguirão Ter autonomia sobre o próprio trabalho, direcionando-o como e aonde lhes convier. Há espaço para todos e público também, meu desejo é que se exerça essa democracia artístico-cultural.